" - A intenção nada mais é que escrava da memória: violenta ao nascer, mas de pouco valor. Agora, está aderida à árvore como fruto verde; mas cai por si só, nem bem se acha madura. É absolutamente inevitável que esqueçamos de pagar a nós mesmos o que a nós devemos. Aquilo a que nos propomos no calor da paixão, acalmada a paixão, é por nós abandonado (...) nossas vontades e nossos destinos correm por sendas tão opostas, que sempre nossos planos acabam sendo derrubados. Somos donos de nossos pensamentos; seus fins, não nos pertencem."
(fala do ator durante uma encenação, falando sobre promessas que temos a facilidade de fazer, mas que não cumprimos.)
"- Que minha benção te acompanhe, bem como estes poucos preceitos que confio à tua memória: Pensa antes de falar e pensa antes de agir. Seja familiar, mas nunca vulgar. Os amigos que tiveres e cuja adoção puseres à prova, sujeita-os à tua alma com arcos de aço, mas não calejes a palma de tua mão com apertos a todo sujeito mal saído ainda implume da casca do ovo. Tem cuidado em não entrar em querela, mas, uma vez nela, faze tudo para que teu contrário sinta temor. Presta ouvido a todo mundo, mas a poucos a tua voz. Escuta as censuras dos demais, porém reserva teu juízo. Que tua roupa seja tão custosa quanto tua bolsa o permitir, mas sem afetação; rico, mas não extravagante, porque a roupa revela o homem e, na França, as pessoas de mais alto conceito e posição são, a este respeito, modelo de finura e distinção. Não peças nem dês emprestado a ninguém, pois emprestar faz perder ao mesmo tempo o dinheiro e o amigo e, pedir emprestado, embota o fio da economia. E isto acima de tudo: seja sincero contigo mesmo e disto se seguirá, como a noite segue o dia, que não poderás ser falso com quem quer que seja."
( recomendações de Polônio, para o filho, Laertes, que está partindo da Dinamarca)
Hamlet - William Shakespeare